quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A oração das horas

A oração das horas
passou...


e você?




Cadê?


Dormiu?

Ou só esqueceu da vida mesmo?

Tudo Bem....

...a vida é tua
Mesmo...

Esqueça,

Faça nada
enquanto eu nado
nu

em mar alheio.
Seja tu mêrmo.

sábado, 5 de setembro de 2009

Letícia

Ela me deu asas ao ombro.

ligou-se comigo numa marca,
apesar de
antes
a marca estar ali.

Fez-se ela em tinta à minha memória
e agora voa ao meu lado de oriente
até eu não ser mais...

5 de setembro de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

PAISAGEM (para Lana e Camila)

sou-me agora um pouco mar:
solidão e companhia.

tenho o amor longe,
mas amor tanto que ladeia.

acaricia-me quilometros,
sorri-me milhas,
abraça-me léguas.

sou nela a distância mais curta da Terra
independente da lonjura.

somos metafísicas.
para duas que somos
não há tempo.

desconhecemos cada nova manhã
para descobrirmos cada tarde
entregando-nos cada noite.

10 de agosto de 2009

Sebastião

Finalmente retornam as palavras
como flechas.

E a certeza de que elas provém da tristeza. 

tua ida foi o fim
do fim
do fim
de mim.

sou outro.
aquele eu-antes morreu enterrado profundo numa avenida qualquer da cidade.

fez-se o tempo. imperceptível.
voraz e certeiro.

sou-me outro triste 
porém alegre.

sou um desbunde egoísta penso em mim quando sou pra outro penso em mim quando estou só penso em mim logo existo em MIM.

jamais amarei.

meu amor é uma ilusão sofisticada 
armada das grandes armadas,
bombardeiros
e porta-aviões.

o meu amor 
é uma piada
(cujo final inconduz sorrisos)


algum dia que não lembro, mas perfeito para hoje: 10 de agosto de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

MEIO (aos meus 25 anos)

sinto-me arredondado.
algo 
entre vinte e trinta.

cheguei aqui.

e não sei bem aonde é isto... 


AQUI: um meio do caminho.

meio da migração.
meio do movimento.
meio da andança.
meio desligado.

o fim de um começo.

(15 de julho de 2009)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Barrosinho

som.
desdefine-se som
e som.

Eis uma palavra
que é.
"som"

e bem como a palavra,
a pessoa.
também ele foi.
Som.
é.

dos lábios, não mais que o som.
dos olhos, não mais que o som.
do pensamento, não mais que o pensamento.

de mim, lágrimas.
e, como não haveria de deixar de ser,
som.

Percebo-me em som de silêncio.
em som de lágrimas colcheias escorridas pra dentro,
numa incompreensível paisagem clavada em sol.
e o sol arde.
a saudade arde.
a distância arde.

fico à vontade com a vontade
de estar som
pela primeira vez.
de encontrar aquele que foi som
em mim que não sou -
mas que, quem sabe, ainda possa soar nos pistos
a música de um encontro.

12 de março de 2009

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

UM TRIZ

pensamentos de morte
vindos da não-vontade.

sou feliz
e, no entanto,
triste.

a tristeza é quase biológica. quase genética.
quase o eu.

meu peito comprime e o amor não entende.
jamais entenderá.
nunca verá que o meu eu é triste
feio
murcho
sem graça
desesperançoso
camuflado em sorrisos.


(19 de dezembro de 2008)